quinta-feira, 12 de maio de 2011

O nº 1 do Brasil

Há 14 anos atrás, um jovem e desconhecido catarinense assombrava o mundo ao vencer o torneio de Roland Garros, um dos quatro Grand Slams do tênis. O nome dele era Gustavo Kuerten, o Guga.

Até então o tênis era um esporte pouco conhecido e pouco divulgado no Brasil, poucos eram os que se lembravam de Maria Esther Bueno, tenista brasileira que ganhou sete Grand Slams nos anos 1960. Guga fez nascer uma nova era. Aos poucos a Gugamania fois se instalando no país. Passamos a ser não apenas a pátria de chuteiras, adotamos a raquete como símbolo nacional.

Aquele garoto cresceu e com ele o seu tênis. Ganhou Roland Garros por mais duas vezes. Se tornou número 1 do mundo. Guga era um astro eos brasileiros tinham orgulho dele. O tênis parecia que entraria de vez na hall dos esportes nacionais.



Junto com Guga, outro brasileiro ganhava destaque: Fernando Meligeni. Argentino de nascimento, lutou sempre pelo Brasil, até a última bola.

Tinhamos então o talento de Guga com a raça portenha de Meligeni. O Brasil estava bem servido no esporte. Com os dois, só um pensamento era possível, logo virá uma nova geraçõ de tenistas. O que eram dois logo passará a ser cinco, seis, sete. Caminhavamos para virar uma potência no tênis.

No entanto, no meio do caminho algo saiu errado. Os tenistas esperados não apareceram. Guga e Meligeni se aposentaram. As vitórias no esporte ficaram só na lembrança.

Eis então que surge um novo talento, Thomaz Bellucci. Jovem, tinha todo o potencial para se tornar um dos melhores do mundo. O tênis brasileiro voltaria a sorrir. A caminhada seria longa, mas havia uma luz no fim do túnel.

Logo ele está no Top 30 do mundo, no caminho certo, mas eis que novamente algo não saiu como esperado. Alguma coisa alterou uma trajetória que parecia certa.

Bellucci não conseguia se firmar. Vencia, e pouco, apenas torneios pequenos. Não conseguia passar por um Top 10. Ganhou fama de "amarelão", muitos falavam que seu ranking era incompatível com seu talento.

Na Copa Davis de 2010 o Brasil tinha a grande chance de voltar à elite mundial, bastava passar pela frágil Índia. Ganhamos os dois primeiros jogos. Perdemos os três últimos. Bellucci desistiu de um jogo que perdia para o nº 113 do mundo. Ele era o 27 então.

Os brasileiros passaram então a se dividir entre os "corneteiros" de Bellucci e os que ainda acreditavam em seu potencial. O tenista fechou parceria com Larri Passos, ex-técnico de Guga. A esperança voltava aos poucos.

Mas Bellucci continuava inconstante. Em fevereiro ganhou sua primeira partida contra um Top 10. Bateu o espanhol Fernando Verdasco, nº 9, para na rodada seguinte ser eliminado contra o nº 191.

No ATP 1000 de Madri, série de competições que só perde em impotância para os Grand Slams, Bellucci virou um monstro. Jogou com autoridade as partidas, venceu dois Top 10 de maneira seguida e alcançou as semifinais, feito que o Brasil não conseguia há oito anos, desde Guga.

Na semifinal perdeu para o nº 2, Djokovic. Chegou a ganhar o primeiro set e a quebrar o saque do sérvio no início do segundo, mas acabou levando a virada. Tudo bem. Foi talvez a primeira derrota sua comemorada. Djoko tem sido fenomenal este ano, ainda não perdeu uma partida. Os entusiastas de Bellucci gritaram aos céus: "Estão vendo?!?!". Realmente o brasileiro mostrou que poderia enfrentar qualquer um jogando daquele jeito. Subiu para o 22º lugar no ranking com a campanha.



Bastou uma semana para ele voltar a ser questionado. Perdeu na estreia do ATP 1000 de Roma, perdeu para o nº 148 do mundo, que vinha do qualifer. Alegou cansaço. Não tinha conseguido se recuperar do torneio anterior.


Ora Bellucci, venhamos e convenhamos, para ser pelo menos um top 10 tem que se jogar toda semana. Djokovic já venceu seis torneios no ano jogando semana após semana. Não dá para jogar um torneio e descansar no outro.

Contra a Índia, ano passado, foi a mesma coisa. Desistiu alegando cansaço, estava sofrendo com o calor indiano. Se Bellucci fosse Islandês talvez eu aceitaria o argumento, mas um brasileiro falando isso? E um atleta profissional, de alto nível, não pode sofrer dessa maneira.

O que falta a Bellucci é preparação. Falta também ânimo. É fácil ele se abater quando está atrás do placar. Bellucci sofre antecipadamente.

No próximo dia 22 começa Roland Garros. Bellucci entrará no torneio como um dos cabeças de chave. Com tempo para descansar, esta competição deve ser o limite para saber se há esperanças de um novo Guga, ou se Bellucci será apenas uma eterna promessa.

Torço para que seja a primeira opção, mas, para mim, sua realidade mais próxima parece ser a segunda.

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